quarta-feira, 10 de agosto de 2016

QUANDO SOLTO MINHAS FERAS NEM O POKEMÓN GO AS LOCALIZA

Houve um tempo em que era propício ao homem instruído ser dado ao auto controle. Em meados do século XVIII, uma das características principais na distinção entre a classe burguesa e o proletariado, para além do poder aquisitivo, era um código de postura e compostura que apregoava o bom uso do vocabulário da língua culta aliado ao emprego adequado do tom de voz como referenciais de uma boa educação. Os homens eram classificados pelo que ostentavam e faziam, juntamente com o traço cultural da época, num esforço tremendo para abdicar dos seus instintos mais primitivos.

A história nos mostra que havia uma espécie de convenção social acerca dos bordéis, como se o tais fossem o único ponto de convergência entre a natureza humana e a cultura. Neles eram permitidos toda sorte de práticas recriminadas à luz do dia. Sexo, jogos e bebedeiras. Todos os limites podiam ser comprados.

O tempo passou e com ele vieram as constantes transformações culturais. O homem recatado de ontem passou a exorcizar suas feras e assim expandir seus limites quanto aos seus desejos na atualidade.

Hoje é fácil perceber o quanto o homem cede ao desejo dos olhos, as pulsões inconsequentes. As feras povoam não só os pensamentos, mas as relações, o dia a dia.

Longe de mim fazer aqui qualquer juízo de valor sobre o comportamento humano, uma vez que não me compete qualquer tipo de legalismo. O que proponho aqui é uma reflexão sobre o que estamos fazendo com nossas feras que andam soltas por ai.

Estamos inseridos em um contexto de cobrança e insatisfação recorrente. Não há mais amarras que contenham uma fera cada vez mais fortalecida por tantos desajustes.

Seja em casa, no trabalho ou no trânsito. Seja pela ira, pelo desejo ou pela loucura. As feras ultrapassam o limite da razão. Coexistem junto com o maquiado aspecto de normalidade.

Tal qual a brilhante obra "O Médico e o Monstro" de Robert Louis Stevenson, acredito que o homem é cindido em sua índole. Com duas naturezas opostas dentro de si, o ser humano busca equilibrar-se em suas vivências. Se uma natureza é boa e evoca a admiração, a compaixão e o apreço de terceiros; a outra já é má, forjada na crueldade de um temperamento explosivo e inconsequente. 

Quando uma natureza se sobrepõe a outra, o desequilíbrio acontece. Se há excesso de bondade, o prejuízo tende a ser percebido na baixa auto estima, assunto pertinente para abordarmos em outro texto. Já quando as feras são postas para fora, em uma escala maior, ocorrem as fatalidades que superabundam os noticiários. 

Desafio para os mais atentos seja talvez, procurar reconhecer as feras que andam desenjauladas ultimamente ao seu redor. Nisto, temos muito a aprender com o famigerado gameplay que é febre mundial, o POKEMÓN GO. 

Quiçá possamos ser caçadores de nossos próprios monstros, aprendendo a distingui-los em nossa vivência. Embora não possuam cores vivas nem sejam visíveis através de realidade aumentada, são passíveis de constatação na maioria dos nossos desajustes.

Soltar nossas feras vez ou outra nos faz bem,  tão bem quanto aprendermos a recolhê-las na eminência de um mal maior.

"O homem que tem mente dividida  é instável em tudo o que faz." (Tiago 1:8)

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